Paulo Pardal, 38 anos de Espírito Serrano

26 de Junho de 2024

Leia a entrevista a Paulo Pardal, funcionário mais antigo da ZIMBRO.

  • Paulo, é o funcionário mais antigo da ZIMBRO, com 38 anos de serviço. Que balanço faz de todos estes anos?

Para chegar aqui, o balanço teve que ser positivo, senão não tínhamos chegado cá! É uma história de vida, grande, com muitas experiências e aventuras pelo meio, mas uma história, até hoje, com um final feliz. A ZIMBRO é uma marca que viveu sempre comigo desde o início, para onde quer que fosse, a ZIMBRO ia comigo. Começámos a trabalhar localmente, a fazer vendas de bebidas alcoólicas aqui a nível regional, só como armazenistas e distribuidores e depois quando começámos a produzir produtos com marcas próprias, mais ainda a marca ZIMBRO ganhou estatuto e presença no mercado. Nós eramos uma pequena empresa de distribuição, que depois foi crescendo e à medida que foi crescendo e que o mercado foi evoluindo, também teve que se ir adaptando às novas realidades.

  • Como conheceu o fundador da ZIMBRO, Artur Aleixo?

O Artur era professor na escola onde eu era aluno. Tínhamos uma relação de amizade, encontrávamo-nos de vez em quando por aí, o Artur tinha uma discoteca e eu era um jovem que ia à discoteca, ao Xa-Na-Na, inclusive faltávamos às vezes às aulas para irmos para a discoteca do professor. Criámos uma relação de amizade, neste mundo das discotecas e das bebidas, eu também era músico, tocava saxofone e estava ligado à música, o Artur também, tínhamos aqui algumas conexões. Fui começando a dar algumas sugestões ao Artur de alguns potenciais clientes, de algumas casas novas que iam abrir, algumas discotecas ou bares que iam abrir aqui ou ali. Na altura trabalhava numa empresa de lanifícios e quando deixei essa empresa, encontrei-me com o Artur assim à tarde no centro da cidade e ele disse-me: “Tenho lá uma carrinha parada, tu também tens muitos conhecimentos, queres fazer aí uma experiência e começarmos a vender umas bebidas nuns bares, fazeres umas vendas e distribuição?”. E assim foi. Era uma carrinha de caixa aberta e, no Inverno, trocámos para um furgão de caixa fechada, com o qual fiz vendas, compras, entregas, tudo. Entretanto começaram a surgir os cash&carry, que começaram a mandar folhetos promocionais para as caixas do correio dos clientes, e aí começou a haver uma concorrência muito grande. Aí surgiu a necessidade de criar produtos com marca própria, e eu e o Artur  pensámos em fazer uma batida de de côco, um “Pisang”, que eram produtos que na altura vendíamos muito, muita amêndoa amarga também, os produtos da moda. Metemo-nos ao caminho e fomos para a Marinha Grande e Vieira de Leiria e fomos à procura de quem nos fizesse uma garrafa especial para nós, mandámos fazer os rótulos com uma imagem nossa, com a marca ZIMBRO, e daí começámos a vender produtos de marca própria produzidos noutras fábricas de licores. Eu ia a essas fábricas carregar e cada vez que ia a essas fábricas estava sempre atento aquilo que se fazia lá, às novidades e à forma como as coisas se faziam. Um dia até houve um senhor, nosso fornecedor, que tinha uma fábrica de bebidas em Castelo Branco, que sugeriu que o Artur ficasse com o negócio. Isso acabou por não se concretizar, mas ficou o bichinho de começarmos a produzir os nossos próprios produtos. Fomos uma vez ver umas máquinas à Marinha Grande, a um leilão de uma empresa que tinha falido, que também era nosso fornecedor, em Alcobaça. Entretanto chegámos lá e as máquinas não eram aquelas que estavam na fábrica, eram sucata. Não ficámos com elas mas nesse leilão conhecemos um senhor que também tinha umas máquinas que queria vender e fomos lá vê-las. Essas sim, estavam em condições boas de funcionamento. Ou seja, não levantámos as máquinas que tínhamos ganho na licitação mas trouxemos outras máquinas, a bom preço e a funcionar. Portanto, já tínhamos máquinas, rótulos, garrafas, também já tínhamos algumas receitas e assim começou. Aí, começámos a ser vendedores/distribuidores e também produtores. Uma aventura nova que começa nesta etapa.

  • Qual pensa ser o segredo desta longevidade na colaboração com a ZIMBRO?

O segredo está nesta forte conexão que eu e o Artur sempre tivemos. Mesmo as divergências que pudessem surgir entre nós, criavam sempre novas oportunidades. As opiniões diferentes que o Artur tinha acabavam sempre por culminar em ideias novas que surgiam para a empresa. E com essa empatia e ligação fácil, porque o Artur é uma pessoa de trato fácil, e eu também, nós conseguimos sempre ultrapassar todos os obstáculos de uma forma positiva e construtiva. O Artur tinha umas ideias, e eu trazia outras ideias novas da rua, sempre trabalhámos muito bem. Não só o Artur comigo, mas o Artur com toda a equipa, os novos elementos que foram entrando. E esse para mim é o segredo da longevidade e do sucesso de um projeto que começou do nada e chegou aqui.

  • Quais os momentos mais marcantes da sua história na empresa?

O primeiro foi aquele derivado da concorrência dos cash&carry, do mercado se ter tornado mais agressivo e a concorrência cada vez mais forte, com a comunicação das grandes empresas a lançarem produtos, e os grandes distribuidores a lançarem folhetos promocionais. Nós eramos um distribuidor pequenino com menos capacidades, menos força de negociação, e o Artur entendeu, e bem, termos de fugir dessa concorrência e a forma encontrada foi criar produtos diferenciados com marca nossa. Essa viragem de não ir atrás da corrente foi um momento marcante, não nos focarmos apenas no preço mais baixo mas ter produtos próprios para estarmos um pouco protegidos das marcas concorrentes.

Depois houve aqui outro momento muito importante. A certa altura surgiu também uma nova moda de uns licores que vinham do estrangeiro, os irish creams, foi uma moda que pegou em grande escala e estava-se a vender muito desse licor. Era um licor de natas, com caramelo. Nós tínhamos um fornecedor que era um dos maiores distribuidores de bebidas alcoólicas do país e eu ia lá muitas vezes carregar bebidas. Quando começámos a produzir os nossos licores, esse senhor, numa conversa comigo, quando lhe mostrei aquilo que estávamos a produzir, disse-me que se conseguíssemos fazer um licor tipo irish cream nos compraria uns “milhares” de caixas, até para exportação, se tivéssemos capacidade para produzir. Era uma tarefa muito difícil, mas fomos para o mercado, o Artur perdeu muitas horas à procura de matérias-primas para conseguirmos fazer esse produto. Este é um momento muito importante, porque era um produto que levava natas e em termos de produção era um processo muito complicado. Fizemos várias experiências para conseguirmos estabilizar e homogeneizar as natas, foi um verdadeiro processo de investigação. Eis que, na primeira vez que fomos à feira “Alimentaria” em Lisboa, na FIL, como expositores, aparece-nos um fornecedor estrangeiro que tinha essa matéria-prima. E esse é um passo marcante, porque quando esse fornecedor estrangeiro nos mandou amostras da matéria-prima, facilmente conseguimos obter uma qualidade de produto idêntica. Finalmente tínhamos descoberto a fórmula. E quando começámos a encher o nosso “Caroline” – foi assim que, primeiramente lhe chamámos -, arranjámos uma garrafa âmbar com um pormenor interessante, uma asa no próprio desenho do vidro e um rótulo muito bem conseguido, com uma qualidade final do produto muito idêntica aos outros irish creams. Só que, quando fui apresentar o produto a esse nosso fornecedor, todo entusiasmado com a convicção de que iria trazer uma boa encomenda, levei um balde de água fria, ao dar-me a notícia de que já não iríamos a tempo porque ele estava para encerrar a atividade e a promessa que me tinha feito caía por terra. Fiquei completamente desiludido mas ele deu-nos ânimo para seguirmos em frente. Tivemos de deitar mãos à obra, fomos para o mercado e comecei a abrir clientes pelo país fora e começámos a ganhar uma embalagem bastante positiva. Nesse momento senti que entrámos num processo em que já não podíamos voltar atrás, tínhamos que ir para a frente, o projeto já tinha pernas para andar e estávamos muito entusiasmados, e desde aí nunca mais parou.

Também houve fenómenos no mercado que alavancaram as nossas vendas, nomeadamente as queimas das fitas. Começámos a fornecer muitas queimas das fitas, chegámos a fornecer todas, desde Faro até Bragança, algumas diretamente, outras por intermédio de distribuidores que já tínhamos conquistado. Outro foi a moda das vodkas sabores – black, morango, melão… -  e também as chamadas ladies nights, onda que também alavancou muito o consumo das nossas bebidas, porque tinham uma boa relação preço-qualidade.

Mais recentemente, destaco ainda a criação dos produtos mais virados para o turismo. Quando comecei a fazer distribuidores em Lisboa, conseguimos introduzir alguns produtos nas lojas francas dos aeroportos por intermédio de um cliente que lá tínhamos. Entretanto acabámos por perder o negócio por conta de alguns problemas com esse intermediário. Um dia, já o André Aleixo estava a trabalhar connosco e já tínhamos um pequeno armazém em Lisboa, retomamos o contacto com as lojas francas. Marcámos uma reunião com o intuito de reativar o negócio e assim foi. Reatámos o negócio, o que foi muito importante. Neste passado mais recente, a adaptação a esse mercado do turismo também foi decisiva e deu uma alavancagem muito forte às nossas vendas. O mercado do Algarve, de Lisboa, do Porto, os mercados em que os turistas passeiam, entram nas garrafeiras, olham para os nossos produtos e gostam da imagem que vêem.

Claro que a mudança de instalações para o Parque Industrial do Tortosendo também foi um momento decisivo para o desenvolvimento da empresa.

 

  • Qual considera ser o “segredo” para se ser um bom comercial e manter uma relação de confiança com os clientes?

O meu segredo foi sempre humildade para aprender, resiliência para lidar com clientes mais difíceis e espírito aberto para receber novas informações e para estar atento às tendências do mercado, aos desejos das pessoas e nunca me deslumbrar quanto se tem bons resultados, nunca se auto deslumbrar. Ter humildade sempre para lidar com os clientes, honestidade, é importante as pessoas serem honestas e corretas na relação que têm com os clientes e com os outros, foi isso que eu consegui fazer e por isso na maioria dos clientes que tenho pelo País, tenho amigos. Nunca tive um curso superior para ser comercial, mas tenho o curso da vida, a experiência da vida e do relacionamento interpessoal com as pessoas da rua, com clientes e amigos que me vão ajudando e que me continuam a ajudar naquilo que é a minha tarefa na empresa: no fundo, criar novas parcerias e vender cada vez mais.

  • Quais considera serem os maiores desafios, atualmente, no desempenho das suas funções?

O maior desafio penso que seja o desenvolvimento das novas tecnologias na comunicação e sentirmos que um vendedor como eu, à moda antiga, começa a ter uma nova concorrência muito forte que são as novas tecnologias de comunicação. Cada vez mais os jovens e os novos consumidores recorrem às vendas online e isso é um novo desafio, porque na internet encontram-se produtos oriundos de qualquer parte do mundo. O papel do vendedor que vai junto dos distribuidores, que acompanha a distribuição para as lojas físicas, etc., esse papel vai passar a pesar menos e a ter menos importância, porque veio esta nova maneira de comercializar, o digital.

 

  • Como vê a evolução do mercado das bebidas alcoólicas ao longo destes anos?

As bebidas alcoólicas são inevitavelmente, na comunicação, como que um inimigo público da saúde. Todavia as bebidas alcoólicas estão ligadas, desde sempre, ao processo de socialização das pessoas. Ainda hoje as novas gerações continuam a conviver e a socializar com os amigos e família em volta de uma bebida alcoólica, seja um vinho, um licor ou uma espirituosa, pelo que até hoje as bebidas alcoólicas continuam a existir. Desde que com moderação, eu penso que as pessoas vão continuar a consumir bebidas alcoólicas. Se calhar com outras modas, com bebidas com menos graduação alcoólica, e nesse ponto ao longo dos anos também tivemos de nos adaptar. Mas creio que no futuro as bebidas alcoólicas vão continuar a ter um espaço na sociedade. As pessoas gostam de se divertir, não é só trabalhar, têm de fazer festa com os amigos, com a família. Desde que seja com moderação, vai continuar e temos de continuar a trabalhar.

  • O que o motiva ainda, nos dias de hoje, na sua profissão?

Motiva-me o facto de termos uma empresa já com a nova geração a trabalhar connosco, e por isso motiva-me muito que a empresa vá continuar. Motiva-me sentir que tive um papel importante nesta empresa e que vou continuar, mesmo que um dia me reforme, com alguma presença na empresa porque farei parte da sua história. Motiva-me todos os dias a conexão que tenho com os meus clientes que também são meus amigos e me ajudam, e com quem tenho relações de cordialidade e de amizade, para além do negócio. Almoçar com eles, jantar com eles e às vezes aprender com eles, as novas tendências, as novas modas, esse desafio que é constante e é motivador. Motiva-me sentir que isto não é um processo acabado e temos de continuar atentos ao mercado para fazer coisas novas e, nesse aspeto, dar o meu contributo à equipa.

  • Onde espera ver a ZIMBRO no futuro?

Espero ver a ZIMBRO, num futuro próximo, a exportar para muito países do mundo. O nosso mercado nacional penso que está mais ou menos consolidado, temos bons clientes, boas parcerias com bons distribuidores em Portugal e nos próximos anos temos que apostar forte no mercado externo e virarmo-nos mais para o mundo e para a exportação. Penso que seja um objetivo que temos de cumprir.